AFUNDADO EM 6 DE ABRIL DE 2004

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22.10.04

O PORTUGAL DOS PEQUENINOS

As noticias que, dia-após-dia, vêm à tona do lamaçal, não são de espantar. Pelo menos para mim. E desde há já muitos anos; numa altura em que as cunhas faziam parte do quotidiano português como o vinho e a cebola. E ainda tenho bem presente, as pressões sociais para que eu tratasse de arranjar o meu tachinho, quando o que eu queria era música. Não tratei do tacho, e ninguém tratou dele por mim. Mas vi os muitos que trataram de arranjar os seus. Uns conhecidos, outros de ver ao longe, e, outros de ouvir falar. Eram também os tempos em que se davam presuntos e frangos ao senhor doutor pela sua abnegada dedicação. Tempos em que os mais humildes tiravam o chapéu ao cruzarem-se com os ilustres das redondezas.
Oh! Como era bonita a procissão! E os casórios entre os tachistas! E as bigodaças fartas! E as panças! E a ignorância! E as senhoras domésticas!
E os anos passaram.
Governos foram eleitos.
Governos cairam.
Fez-se a revolução.
E os anos passaram.
Governos foram eleitos.
Governos cairam.
Mas os caciques mudaram de camisa e continuaram a tratar da vidinha. Outros, que nada sabiam do oficio, juntaram-se-lhes e foram aprendendo o oficio até ao dia em que foram declarados herdeiros. E depois multiplicaram-se, filiaram-se em clubes de futebol e em partidos politicos. Quase sempre sem dar nas vistas. Quase sempre. No entanto houveram algumas excepções. E como foram recuperadas, essas excepções, do anonimato (ou semi) para servirem a pátria, em nome das ideologias partidárias, ganharam um novo folego. E ainda mais com o bombear constante dos milhões comunitários: «Ah! Finalmente o passado africano para trás, e enterrado!»
Era tentação a mais, para mentes tão dadas à improvisação. Daí a meter a mão ao de leve, ao fundo, ao fundão, à luva, e amealhar umas coroas a mais para o futuro incerto foi um pequeno passo para o português, mas um grande passo para a nação.
Bem hajam pessoas tão empreendedoras!

O GUARDA-REDES AMERICANO

As eleições americanas estão no centro das atenções do mundo inteiro como nada até à presente data; para o bem ou para o mal. E se após os atentados do 11 de Setembro praticamente todo os habitantes deste planeta estavam, de alma e coração, ao lado do povo americano nessa hora de dor, não tardou muito para que tudo mudasse. E o primeiro passo foi dado pelo homem que deveria de agradecer, em nome da nação americana, esse gesto espontâneo, e guiar o resto do mundo para um porto seguro. Mas não tardou a surgir a verdadeira essência do lider e do circulo que o assessora: a do quero, posso e mando; a do faço, imponho e desfaço; a do medo, secretismo e vitimização. E por aí fora até ao caótico e imprevisível presente.
Claro que da América – como do resto do mundo- já veio de tudo: bom e mau. E como qualquer bom senso pode dizer, o que mais é recordado são, quase sempre, os aspectos negativos, principalmente quando eles se sucedem uns atrás de outros sem mostras de abrandamento.
Entretanto, as pessoas, mesmo as que vivem em países que estão ainda no limiar do desenvolvimento, conseguem ver, claramente, a arbitrariedade, a parcialidade, a incoerência e a prepotência de quem tem poder, de quem se proclama defensor dos direitos humanos, da liberdade, da economia de mercado, mas que de facto dá, em demasia, o dito pelo não dito. A ignorância não têm fronteiras, e, onde menos se esperava, ela grassa a seu bel prazer pondo em risco, verdadeira e perigosamente, o futuro: não da humanidade mas da criançada; eles é que vão pagar a fatura pelos atos e diversões dos seus progenitores; quer sejam lideres, quer sejam, simplesmente, coniventes (o silêncio é, e será sempre, consentimento tácito) liderados. Até nos países mais “obscuros e medievais” há gente “menos inteligente” capaz de diagnosticar a diplomacia mundial com a doença de Alzheimer em fase terminal.
E daí a dizer que gostaria que o atual presidente americano fosse derrotado nas próximas eleições vai um grande passo. A questão, agora, é saber se não será demasiado tarde. Ou se será justo que outro venha remendar (correndo sérios riscos de falhar e pagar, ele mesmo, o total da factura do seu amigalhaço –que, esfregando as mãos de contente lá para os lados da sua quinta no Texas, rir-se-à a bom rir) a buracada do seu antecessor. No fundo, gostaria que Kerry fosse eleito. Mas devo confessar que também gostaria de ver como é que o presidente Bush irá sair-se desta no caso de ser re-eleito.
Vale a pena ler o interessante artigo (editado) de opinião de Geoge Soros publicado na edição de hoje do jornal Público, ou o original.

9.10.04

PRONTO A VESTIR, E DESCARTÁVEL

Tantas vezes me apetece escrever só para descascar em tudo o que vai mal no nosso pequeno quintal na traseira da europa (ou será na frente?). E já o fiz, devo de confessar, mas sem sucesso. Ainda bem! Dá-me tempo de aprofundar, de mudar de opinião e, acima de tudo, deixa-me entalado na minha perguiça; teimosa e ordinária. Mas é por demais evidente de que temos pessoas bem capazes de o fazer (e bem melhor) por mim; uns profissionais, outros amadores. Por isso a questão: «Para que serve, afinal, todo este zum-zum se os resultados são, ao invés de positivos, ainda mais negativos?» Ou: «Se escrevemos tão bem e acertadamente, qual é, então, o interesse de o fazer se tudo continua como dantes?...»
Sinto que quanto mais se critica, analisa, disseca, soneca, arrasa, abrasa, os estados psico-fisicos do país em geral, mais deprimido e bandido este fica.
Soluções? Não creio.
Alterações? Levam demasiado tempo (e dinheiro) e quando chegam a de facto estão, já, obsoletas, vulgo fora do prazo de validade, vulgo em cadeira de rodas por razões de incapacidade maior (motora?).

Sugestões? Sim, tenho algumas (sempre é mais fácil e são gratuitas):

-Criminalizar a política. Quero dizer, tornem os políticos responsáveis criminalmente; quer pelos seus actos de má gestão(governação irresponsável, tendenciosa, amigável, etc.), quer, pelos de caracter criminoso (ao abrigo de novas leis, claro... incluindo a prisão perpétua),

-Após os actos eleitorais, os vencedores apanhados a celebrar serão desclassificados. Eu explico. É óbvio que governar os destinos de um país/povo não é tarefa brejeira, do tipo arraial popular. É, isso sim, um acto de sacrificio, abnegação, total dedicação, responsabilidade/exemplo moral, e, mais do que tudo, porque é um acto voluntário não se podem refugiar em pantomimas endiabradas, em malabarismos reumáticos, em actuações pró-boneco, etc. Isto porque quando os vejo a celebrarem, imediatamente me vêm ao pensamento: «Estes gajos estão a gozar comigo» ou: «Quem no seu perfeito juizo celebra a dureza, o sacrificio...» ou: «Eles não podem ser sérios.» Não, não posso acreditar que realmente estejam motivados, e/ou dispostos a tal sacrificio que não o masturbatório, o de proveito próprio, o de mediatismo, o de despotismo.

-Acabar com a oposição, que mais parece um bando de maltrapilhos bem (discutível) engravato-fateados, e com tiques e taques que, assumamos, não convencem ninguém. Crie-se, em sua substituição, a CO(M)POSIÇÃO.

-Acabe-se com o cargo imbecil da Presidência da República e, em sua substituição, crie-se o de: MÃE E PAI MAIS MAIS REPRODUTIVOS DO PAÍS.

-Acabem-se com todos os ministérios e crie-se o MISTÉRIO GLOBAL.

-Acabem com o sistema de Primeira Classe. Em tudo. Use-se o sistema: POR ORDEM DE CHEGADA. Sem cair na tentação de siglar por tudo e por nada (até soa a pornográfico...).

24/10/2003 15:10

8.10.04

MARCELO BATEDOR

Uma demissãozeca de um falador bastante dotado na arte da faladura, mas que falhou redondamente quando teve a oportunidade (sem ser muito autocrítico, creio) de mostrar o que valia quando esteve à frente (depressa ficou atrás) do partido em que agora bate a gosto (e faz muito bem) e o mundo desaba. Quero dizer, o mundinho português. E o P. da R. vira investigador (ou será instigador/procurador/doutor...) e sai em defesa da liberdade; algo que ainda está para vir para quem está preso –não no aljube VIP da PJ, mas em Custóias, ou em Tires, ou a uma cama de hospital sem energia eléctrica para fazer funcionar a ventilação artificial.
Será que este senhor adulto, eloquente e professorado não têm advogado? Ou dinheiro para contratar um? Ou mais que fazer?
E já se fala na demissão do governo.
E eu já perdi a esperança... já lá vão muitos anos.
p.s. Entre demissões, nomeações, comissões e estações saiem todos com mais do que quando entraram! Não é?