AFUNDADO EM 6 DE ABRIL DE 2004

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28.12.04

CORAÇÃO ABERTO AO POVO DA MINHA ALDEIA

Venho eu, por este único meio, devolver a Confiança. Encontrei-a muito triste, e abandonada, num aterro sanitário; à espera de ser incinerada. Estava a chorar, e tremia de frio e de medo. Sosseguei-a. Lavei-a; da sujidade acumulada nos anos de forçada deambulação pelas ruas da amargura. Dei-lhe de beber e de comer. Vesti-a com roupinha nova e colorida. Mandei-a ao cabeleireiro –para um tratamento capilar, seguido de uns retoques com pó de arroz, limpeza e corte das unhas. Depois, já recuperada e mais segura de si mesma confessou-me que tinha sido escorraçada por um bando de homens muito maus, e espancada por se ter recusado a ir com eles para a cama. Prometi devolver-lhe a dignidade e a auto-estima, ao que ela me replicou que preferia um auto-carro. Disse-lhe que ia ver o que podia fazer, e perguntei-lhe se aceitava um em segunda mão; pelo sim e pelo não...

Ass: OUTRO POETA POPULAR

EU, POETA POPULAR

Pelas aldeias do meu país
Irei colher frutos
Provincianos são
Mas não importa
Quero ser diferente
Pegar o touro de frente
Que para trás já basta
E não há mais pasta
Prás festa contentar
Pelas aldeias do meu país
Vou a votos
Votai em mim
Amigos e camaradas
Votai em mim
Vós que estais no céu
Pra eu livrar as almas do inferno
Com que fui presenteado
Pelos meus inimigos
Pelas aldeias do meu país
Vou andar de burro
A inaugurar pistas
De carrinhos de brincar
Dar beijos e abraços
A todos sem pestanejar
Votai em mim povo luso
O paraíso será a recompensa
O paraíso...

15.12.04

LIÇÕES COM CUSTO HUMANO

Hoje, pela voz de um dos familiares das vítimas dos atentados de 11 de Março de 2004, a COMISSÃO DE INVESTIGAÇÃO DO 11 DE MARÇO 2004 –formada por políticos mais envolvidos nas suas querelas partidárias do que noutra coisa qualquer- foi brindada com um discurso que os acordou para a dôr e para a realidade. Essa voz resumiu, no final, o seu discurso num pedido de três pontos: que se conheça a Verdade; que se faça Justiça e que haja uma Compensação –não económica, ressalvou.
Por acaso acompanhei uma boa parte das oratórias destes últimos dias, e o que sobressaiu mais, como afirmou a portavoz das Vítimas do 11 M, foi a discussão em torno do que sucedeu depois dos atentados, nomeadamente a tentativa do governo de responsabilizar a ETA, entre outras coisas mais.
Sem dúvida, o que faltou –e falta- a estes políticos –e a tantos outros por esse mundo- é decência, real respeito aos governados, e dedicação ao governar –não ao governo, e aos amigos.
No final, era apenas o silêncio, entrecortado por pedidos de desculpa dos políticos a acusarem a pedra no sapato; que lhes sirva de lição. A mim serviu. E mais do que bombas e terrorismo, as palavras quando se trasnformam em diálogo lúcido, quando usadas com razão (mesmo que a emoção transpire por vezes) são a mais eficaz "arma", existente e disponível infinitamente, para fazer a paz, o amor, enfim a humanidade acontecer... todos os dias: porque uns morrem e outros nascem!