AFUNDADO EM 6 DE ABRIL DE 2004

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19.1.07

GANGAS E GANZAS

Há vários anos, oito para ser preciso, que vivo fora de Portugal (mas sempre ligado –infame necessidade!) e sempre preocupado com o andamento, que era mais lento e mais benigno, da lusitana carruagem. Resta-me o Verão para matar saudades durante algumas semanas, e a Primavera para a curta, mas fundamental, visita de médico. E a sensação, tão simples como isso, é a de que o civismo (sempre lento e bruto) se está a perder à razão de um “terrorismo” sem leme, que se instalou –no homem- por todo o país. E na minha humilde condição de artista de artes desconhecidas, e de trabalho ma(nua)l remunerado, vejo-me defronte do espelho inquirindo: “espelho meu, há alguém mais querido do que eu?” “Sim, há quem ande de jeans, e esgazeado, a semear tempestades: tristes e balísticas, gratuitas e caras, dentro das “lojas de inconveniências” que germinaram em quase todas as esquinas, e nem o rico –muito menos o pobre- têm dinheiro suficiente para pagar a exorbitância.”

in A Caminho de Fátima: devotos e de botas – edição de capa dura pela Brota Editores © 2000 e 7

OS DIAS DO JUÍZO FINAL

SEQUESTRO, s.m. (lat. sequestru). Depósito de uma coisa litigiosa, por ordem judicial ou por convenção das partes, entre as mãos de terceiro, que a deve conservar até à decisão definitiva: pôr... blá, blá, blá, menos o resgate que nunca se soube quanto.
Então, o psicólogo diz uma coisa e o doutor juíz diz outra; o pai biológico quis ter a certeza de que era o pai biológico –lógico-; a mãe biológica quis entregar a filha ao casal que a quis receber, lógicamente; os pais “adoptivos” não querem que a filha -que receberam por um sentimento maior- que amaram, lavaram, alimentaram, lhes seja “sequestrada” sem mais nem menos... e a filha, provávelmente bem feliz e bem tratada, não sabe, ainda, “que os homens têm pesadelos que não dão prazer sexual, porque o desejo é estéril quando a tusa se perde, noite dentro, em malabarismos difíceis de executar...”
Resta-me a masturbação, e o facto de não ter, ainda, idade para saber o que é a paternidade; a Maternidade é mais fácil: “...Estabelecimento de assistência para mulheres grávidas e parturientes.”

BEDELHOS E FEDELHOS

Tenho a minha opinião, há já mais de nove meses, sobre a questão do aborto, mas o que quero dizer sobre o assunto é o seguinte:

1º Gostaria de ir a casa dos defensores do NÃO e meter o meu bedelho na vida deles...
2º Gostaria de ir a casa dos defensores do SIM e meter o meu bedelho na vida deles...
3º Se a vida fosse, ainda, um filme a preto e branco –e mudo- o colorido seria um luxo...

10.1.07

LIBERTÉ, EGALITÉ ET FRATERNITÉ

Paris em particular, e a França em geral, querem receber o chinês turista com muita cortesia e pouca algazarra (tanques militares nas ruas de Paris, por exemplo). Daí a criar mais um manual de etiqueTTe foi um passinho de mansão. O guia, publicado pelo governo francês em conjunto com a Direcção do Turismo e a Casa da França, intitula-se: “Turistas chineses: como recebê-los bem” e é uma bonanza na literatura mundial vocacionada para a erudição oriental. Primeiro, e por questões de azar, quero dizer segurança, nenhum chinês será colocado –pelo menos contra a sua vontade- no quarto andar (serão colocados na sala, a meu ver) de qualquer hotel, mesmo naqueles que só têm três andares. O pequeno-almoço deverá ser mais substancial (omeletes, ovos mexidos e presunto, além das torradinhas e do galon francês) o copo de vinho trocado pelo copo de sumo, e o Tibete ficará para o futuro. Tudo para que eles (re)voltem a França após a primeira visita, e se sintam como em casa.
Pudera, 600 mil vieram em 2005 e eles são: 1,313,973,713 (Julho 2006 -est.)! Força Portugal, vamos usar a oferta de Macau como isco para os trazer, de férias, para o Algarve: prometa-se não falar de política, religião, direitos humanos, construam-se hotéis que não tenham: nem quarto andar, nem número 4 em lado algum -as superstições não são novidade nenhuma para o português (Oliveira, balneários, algures na Coreia do Sul) pequeno almoço de caldo-verde (com tora boa) broa caseira, sardinha assada com cebola, pimentos, azeitonas e muito azeite, sumo de limão e, um cimbalinozinho para rematar, com charuto cubano incluído... é só facturar, e a economia lusa agradecerá!!!

6.1.07

VOULEZ VOUS COUCHER AVEC MOI, CE MATIN?

Em Paris, cidade da luz (o benfica faria bem em mudar-se para…) o povinho não comunica entre si; quer dizer vizinho com vizinho. Então surge a “PEUPLADE” –website francesa para contactos sociais- cujo objectivo é criar pontes para atravessar o pequeno abismo entre vizinhos: porta a porta ou, janela a janela. De fora ficaram as camas; pelo menos numa primeira fase –a do quebra gelo... ao que se seguirá o quebra nós!
Depois da usual baboseira sociológica, psicológica, escatológica, vergonhógica, semlógica, para explicar que duas mulheres têm dois pares de mamas (entre outros atributos) e que dois homens têm um par de pénis (e pouco mais)... é caso para dizer: «Tenho de ir à Paris para encontrar a minha namorada du Paredés!»
Aparentemente, baseado numa ciência de engenharia social, uma das regras de entrosamento parece ser a de organizar festinhas, pelos corpos que não se conhecem, em locais pequenos (quer dizer, apertadinhos): parece que quando acotovelado, o povo, forçosamente, convive mais.
Será que os Pompier Voluntários ficam de prevenção?

ULTRAPASSA-ME, QUERIDA!

 
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4.1.07

DOUTORES E COZINHEIROS

Receita carnívora-o-vegetal

Ponha-se 75 kg (+-) de carne de burro em vinho-d’olho durante 4 anos (média) e retirar antes do estágio final. Deitar o vinho-d’olho fora e deixar arejar a carne durante várias noitadas. Temperar, entretanto, com mestria q.b. os vários acompanhamentos; o psicológico com salsa; o financeiro com sal; o alojamento com pregos (no prato ou no pão, não faz diferença...); o pessoal com pimentinha e, finalmente; o sexual com alho porro. Agora, se for ao forno, acender uma boa cesta de cavaquinhos e deixar arder até acabar o ardimento. Depois de bem aquecido pela ardidura, e após colocar a burrice (carne de burro no plural) em vários recipientes –os necessários para a acomodar na totalidade- juntar umas batatinhas, préviamente descascadas e lavadas, umas cebolas bravas, cortadinhas em várias rodelas, e colorir com os vários acompanhamentos préviamente temperados. Leve tudo para dentro do forno e deixe cozinhar por umas 4 horas. N.B. não esquecer de tapar a entrada do forno até à saída da cozedura. Se for ao fogão, repetir o processo acima descrito, mas sem queimar uma cesta de cavaquinhos dentro do forno, e sem colocar a burrice –que se encontra dispersa por vários recipientes- no forno, também, mas sim no fogão. N.B. a cozinhadura no fogão é mais lenta, pelo que deverá de durar, pelo menos, mais 2 horas do que a do forno.

Pode servir-se acompanhado à guitarra, à viola, à escolha, à noite, à mão, à cabeçada, à cunha, à dentada, à facada, à garfada, à pontada, à prestação, à capa...

NOTA FINAL- devido ao descomunal esforço fisíco necessário, este prato não é aconselhado a crianças.

Reservadas todas as mesas desta publicação para D&C