AFUNDADO EM 6 DE ABRIL DE 2004

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10.11.10

AS PONTES QUE PRECISO PARA ATRAVESSAR O MEU QUINTAL E OS TÚNEIS QUE VOU CONSTRUIR PARA USUFRUIR DAS DIVISÕES DA CASA

Ando, penso, medito um pouco (a concentração é o meu forte) e quero resolver o imbróglio que é a vida na minha casa, à aldeia das Cavadas.
A coisa é pequena e um pouco desarrumada. No inverno é fria e deixa entrar água pelas telhas partidas, assim como o vento pelas frestas das portas e janelas. De verão é quente, cheia de pó expelido da secura à volta e sem isolamento das festanças populares, dos vizinhos malcriados e outras vicissitudes imagináveis.
A aldeia é quase pacata e não tem muitos habitantes; nem nascem nem morrem por aí além. O poder político e religioso é bafiento. O primeiro, crê na sua desmesurada importância, entranhada desde os tempos do respeito pela gravata -dá dores de cabeça aos gravateiros que querem nós corredios e são assediados (pelos clientes usuais) com pedidos de nós improvisados, cegos e forcados; o segundo, acredita na piedade e proclama-se o interlocutor entre o interruptor e a luz mas cobrando, quer a passagem terrena quer a passagem aérea.
Por causa de tanta necessidade de acção e obra, fui comprar um fato-macaco (os desperdícios não vem incluídos) martelo, pá, galochas picareta, fio-de-prumo, colher bolota, pé-de-cabra, nível, carro-de-mão, pregos e talocha. Mandei vir areia e cimento, madeira e tijolos, fiz um projecto, delineei um plano, convidei a opinião e fiz uma promessa.
Mas como não posso alterar o rumo dos outros vou rumar dos outros e alterar o meu.
E a sociedade, que somos em conjunto, terá de ser limitada, as quotas anuladas, e as assembleias suspendidas. Os cargos ficarão para mais tarde, ou vazios nos casos de não se puder enchê-los... a não ser com tédio.

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