O grande actor Al Pachimbo decidiu virar realizador e escrever um guião inspirado na vida –só sete anos mas recheada de peripécias e de nódoas negras, até mesmo uns puxões de orelhas!- do Don Tomatito, que, aliás, foi convidado para desempenhar o seu papel. Para o papel de mau da fita foi convidado o habitual mau-da-fita: Rixa das Cavadas, homem bastante temido, e de mau feitio, que fazia o Alentejano mais paciente perder a paciência. Até a Dona Rifa já nem sabia onde é que a paciência andava. O mais provável era que estivesse no hospital a recuperar do esgotamento. Os preparativos para o começo das filmagens começaram logo que a Tâmara Punicipal do Torto deu autorização para filmar na capital nortenha. E esperava-se que começassem a filmar no prazo de cinco dias. Al Pachimbo era esperado, ansiosamente, como uma grande estrela do firmamento cinematográfico de Holymood. Bem merecido, é verdade!
As primeiras filmagens começaram a rodar-se na Ribeira de Caia, mesmo junto aos barcos Trabelos, e era uma cena de natação, seguida de perseguição, a pé, que ia até à Ribeira do outro lado do rio Touro, e terminava perto das escadas que dão para a Pé –igreja magnífica no cimo da escarpada escarpa. Mas como era a primeira cena, e a “máquina” ainda não estava bem oleada, tiveram de repetir por trinta vezes, o que começava a impacientar o Don Tomatito. E, para grande surpresa de todos, o Rixa das Cavadas –Conde de Besteiros- estava muito calmo, até mesmo bem disposto, e disposto a repetir a cena sempre que lhe era pedido. Finalmente tudo correu bem e passou-se para a cena seguinte: jantar amoroso no Castelo do Beijo, mesmo ao pôr-do-sol, e que, escusado será dizer, também não correu bem à primeira. Nem à segunda, nem ao fim de quinze beijos. Então, Al Pachimbo fez um ultimatum: ou faziam tudo bem ou ninguém iria dormir nessa noite. E por volta da meia-noite e meia, finalmente, ouviram as palavras mágicas: «-Corta! Parabéns!» e foram todos dormir descansados. Menos Don Ficonão, o cameraman, que foi dar uma volta pela Ribeira do Torto; mais concretamente foi até ao O Teu Mercedes é Maior do Que o Meu Mini – bar muito fixo da zona ribeirinha à noitinha!
Manhã bem cedo, cena número três, em Tanta Catarina, onde Don Tomatito, o Rixa das Cavadas e Al Pachimbo se encontravam, e dirigiam a pé, ao Má Gico, para um pequeno-almoço de negócios. Mas as coisas iam de mal a pior; ou era um empregado, fardado a rigor, que, muito nervoso, fazia tilintar as chávenas do café-com-leite; ou era a empregada da limpeza que, da cave, perguntava onde é que estava a esfregona, mesmo a meio de uma cena. Por volta da hora do almoço, e sem que se produzissem resultados, decidiu-se fazer uma pausa, mais alargada, para um almoço no restaurante “O Sol Nasce de Manhã” –um gostosíssimo cozido à Portogalesa, regado por um excelente tinto d’uvas acabadinhas d’espremer, e ainda tão docinhas. Ah! Que coincidência, o almoço saiu tão bom à primeira, que só depois de repetirem, de uns belos melões da Quinta de Melões, uma invasão de uma dúzia de pudins franceses, cinco dúzias de caféses brasileiros, e muitos palitos para palitar os dentes, é que voltaram, a pé –pois nem podiam conduzir!- ao Má Gico para uma grande cena, filmada ao primeiro teique. E tão contente Al Pachimbo ficou que, decidiu dar três dias de folga e ir até Pá Redes, sózinho, preparar a cena final do concerto de Roca, na casa da Culturra. Passeou de borla no carro do presidente da Tâmara Punicipal, visitou o Santo da Beira, foi a uma oficina de Vóveis e, claro, encontrou-se com o Don Patanisca na Casa Amarela –restaurante familiar e amigo da família.
O concerto Roca foi encartazado pela banda El Manxa Tudo, com Don Mico nos bocais, Rafeiro nos batuques, Víntor Idade no mais baixo, e Mângelo S. Trága nas cordas –com Don Teclas no piano. O povo acorreu em massa, para figurão no filme, e não se cansava de bater palmas; mesmo quando Al Pachimbo dizia: «-Corta! Tá tudo mal!»
Mas tudo correu bem, afinal!
©2008 manxa
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