As noticias que, dia-após-dia, vêm à tona do lamaçal, não são de espantar. Pelo menos para mim. E desde há já muitos anos; numa altura em que as cunhas faziam parte do quotidiano português como o vinho e a cebola. E ainda tenho bem presente, as pressões sociais para que eu tratasse de arranjar o meu tachinho, quando o que eu queria era música. Não tratei do tacho, e ninguém tratou dele por mim. Mas vi os muitos que trataram de arranjar os seus. Uns conhecidos, outros de ver ao longe, e, outros de ouvir falar. Eram também os tempos em que se davam presuntos e frangos ao senhor doutor pela sua abnegada dedicação. Tempos em que os mais humildes tiravam o chapéu ao cruzarem-se com os ilustres das redondezas.
Oh! Como era bonita a procissão! E os casórios entre os tachistas! E as bigodaças fartas! E as panças! E a ignorância! E as senhoras domésticas!
E os anos passaram.
Governos foram eleitos.
Governos cairam.
Fez-se a revolução.
E os anos passaram.
Governos foram eleitos.
Governos cairam.
Mas os caciques mudaram de camisa e continuaram a tratar da vidinha. Outros, que nada sabiam do oficio, juntaram-se-lhes e foram aprendendo o oficio até ao dia em que foram declarados herdeiros. E depois multiplicaram-se, filiaram-se em clubes de futebol e em partidos politicos. Quase sempre sem dar nas vistas. Quase sempre. No entanto houveram algumas excepções. E como foram recuperadas, essas excepções, do anonimato (ou semi) para servirem a pátria, em nome das ideologias partidárias, ganharam um novo folego. E ainda mais com o bombear constante dos milhões comunitários: «Ah! Finalmente o passado africano para trás, e enterrado!»
Era tentação a mais, para mentes tão dadas à improvisação. Daí a meter a mão ao de leve, ao fundo, ao fundão, à luva, e amealhar umas coroas a mais para o futuro incerto foi um pequeno passo para o português, mas um grande passo para a nação.
Bem hajam pessoas tão empreendedoras!
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