AFUNDADO EM 6 DE ABRIL DE 2004

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19.11.04

TELE GRAMA

Uma das eminências pardas da política portuguesa, pós 25 de Abril, não deixa de nos surpreender, apesar do seu legado. Mas não é sobre este último pormenor que quero escrever. É sobre algumas afirmações, de Mário Soares, proferidas ontem no Porto. E a forma como “pinta” o Portugal do presente (e de que futuro?). Isso porque tal já não é novidade para o povo, nem para alguns cronistas ( de crónicos) que não se cansam de martelar na mesma tecla (produzindo excelentes sonatas consagradas ao vazio); o mesmo não se poderá dizer dos políticos (mais crónicos) que cada vez mais martelam nas teclas todas (produzindo sinfonias consagradas ao esvaziar).
Porquê?
Porque entre dois passos de dança, umas jantaradas, seguidas pelas respectivas charutadas e habitual conhaque, tudo fica com aquele aspecto mágico; idêntico ao efeito que o uso de lentes especiais (para melhorar o colorido) traz ao filme cinemático.
Porque entre um carro usado e um novo, seguidos pelos respectivos policiais e habitual chinfrim, tudo fica para trás; idêntico ao efeito que o andar de costas voltadas para a direcção que o comboio segue traz ao passageiro de segunda classe.
Porque o tal “polvo da corrupção” já não é novo; nem para o Estado, nem na sociedade, nos partidos e nas autarquias. E se o nível não é idêntico ao da ditadura, o mesmo não se pode dizer do Portugal pós 25 de Abril (e não só dos “pós-modernos” como se subentende).
No entanto, é de louvar que vozes destas se façam ouvir. E seriam necessárias muitas mais para acordar o povo para uma revolta controlada; os políticos para uma fuga descontrolada, vulgo fuga de cérebros; os artistas para a composição de hinos rebeldes (já que de embalar estamos bem providos –não admira que todos durmam a siesta, enquanto do outro lado ela continua a produzir resultados bem diferentes).
Ai! Que saudades do Zeca e do Variações.
Ai! Que saudades do Eça e do Ortigão.
Ai! Que saudades da Saudade.

«A Nação publicou um telegramma de Lourdes, em que se lhe diz: O padre cego já vê, a paralytica já anda.» in As Farpas: Chronica Mensal da Politica, das Letras e dos Costumes

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