A CORRENTE DO AO PAU
espera-me, se puderes,
lá em baixo perto do frio;
porque tenho medo desse frio.
porquê?
porquês?
portuquês?
doar-te-ei o meu calor;
que nunca arrefecerá, prometo,
se me protegeres desse frio.
quando?
quanto?
canto?
quero saber quem sabe: sabes tu
porque é que quero saber?
porque tenho medo...
medo do credo que aprendi,
que rezei, que preguei, que roubei,
que já não sei.
porque tenho frio...
frio de tremer, de chorar.
e mais, de fugir aos dias.
espera-me, outra vez,
e se não puderes manda alguém
que possa receber o meu frio;
doar-lhe-ei calor também...
um pouco mais colorido;
talvez com as cores do amor.
querem?
pedem?
fechei-me num mundo de aluguer,
há muito excomungado pelo comprado.
respondi-lhe com uma extrema unçao.
por isso esta relação distante é quente,
e como no nosso século XVI o tempo, agora,
é de descobertas: novos mundos todos os dias
para todos os gostos e para todas as economias.
os pobres alojam-se no leito da terra e respiram pó.
os ricos um pouco mais alto, perto de céu, e transpiram.
abro-me ao anoitecer para receber novos desafios dispersos,
que são fatalidades adormecidas pelo efeito da tirania capitalista.
mercadores e mercadorias confundem-se e passam, de mão em mão, a mão
pelo horizonte; perdido ou iludido pelos malabarismos da faladura sensual.
mas por enquanto as coordenadas estão condenadas à desolação redentora das dores,
agora que as paisagens nacionais ardem sequiosas de líquidos vinícolas de cor tinto
porque lhes não falta pão, tensão, maquinação, manipulação, aberração, nem não. nem não, não.
ah
ão
ha
ão
ah
ão
ha
ão
ah
ão
ha
ão
haha
29102002 23;50
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