AFUNDADO EM 6 DE ABRIL DE 2004

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26.11.04

TELE GRANA

Outra das iminências pardas da política portuguesa, Cavaco e Silva, disse, e muito bem, a partir da cidade Invicta também, que vamos continuar a empobrecer até 2006. Das duas uma, ou é mau porque teremos mais dificuldades em alimentar a família, e em pagar as facturas –vivendo num dos países mais caros da Europa (não, não é ficção, e muito menos para rir; ou será?) ou é bom porque a partir de 2006 vamos enriquecer (como à muito é esperado –deverá de estar escrito no Astral portuga) e, finalmente, ter pataco suficiente para mudar a familia, o mobiliário, o gato e o cão, para um país onde o futuro esteja assegurado por políticas menos dadas às festividades gloriosas da política-espectáculo, ou às habilidades malabaristas do empresário-artista. Bom, aqui fica o registo e a dúvida. E mais um excertozinho da memória passada.
«No tempo da nossa prosperidade e da nossa gloria o povo era extremamente instruido. É certo que não sabia ler. Mas saber ler não constitue propriamente instrucção, mas sim um dos meios de instrucção. Ora o povo dispunha então de outros meios superiores á leitura. O marinheiro e o soldado educavam-se nas grandes viagens, os operarios educavam-se na confecção das mais bellas obras de arte, como o convento de Thomar, os Jeronymos, as capellas imperfeitas da Batalha, a torre de Belem. O povo de então não sabia ler os livros, mas sabia mais do que isso: sabia fazel-os. Foi o povo que ditou as narrativas sublimes da Historia tragico maritima, o mais admiravel, o mais bello, o mais dramatico, o mais commovedor, o mais eloquente livro de que se póde gloriar a litteratura de uma nação.
A isso chama o sr. conde de Rio Maior achar-se pouco diffundida a instrucção! E conclue d'esse absurdo que um povo póde attingir a prosperidade sem sair da estupidez!» in As Farpas: Chronica Mensal da Politica, das Letras e dos Costumes - Eca de Queiroz Ramalho Ortigao

19.11.04

TELE GRAMA

Uma das eminências pardas da política portuguesa, pós 25 de Abril, não deixa de nos surpreender, apesar do seu legado. Mas não é sobre este último pormenor que quero escrever. É sobre algumas afirmações, de Mário Soares, proferidas ontem no Porto. E a forma como “pinta” o Portugal do presente (e de que futuro?). Isso porque tal já não é novidade para o povo, nem para alguns cronistas ( de crónicos) que não se cansam de martelar na mesma tecla (produzindo excelentes sonatas consagradas ao vazio); o mesmo não se poderá dizer dos políticos (mais crónicos) que cada vez mais martelam nas teclas todas (produzindo sinfonias consagradas ao esvaziar).
Porquê?
Porque entre dois passos de dança, umas jantaradas, seguidas pelas respectivas charutadas e habitual conhaque, tudo fica com aquele aspecto mágico; idêntico ao efeito que o uso de lentes especiais (para melhorar o colorido) traz ao filme cinemático.
Porque entre um carro usado e um novo, seguidos pelos respectivos policiais e habitual chinfrim, tudo fica para trás; idêntico ao efeito que o andar de costas voltadas para a direcção que o comboio segue traz ao passageiro de segunda classe.
Porque o tal “polvo da corrupção” já não é novo; nem para o Estado, nem na sociedade, nos partidos e nas autarquias. E se o nível não é idêntico ao da ditadura, o mesmo não se pode dizer do Portugal pós 25 de Abril (e não só dos “pós-modernos” como se subentende).
No entanto, é de louvar que vozes destas se façam ouvir. E seriam necessárias muitas mais para acordar o povo para uma revolta controlada; os políticos para uma fuga descontrolada, vulgo fuga de cérebros; os artistas para a composição de hinos rebeldes (já que de embalar estamos bem providos –não admira que todos durmam a siesta, enquanto do outro lado ela continua a produzir resultados bem diferentes).
Ai! Que saudades do Zeca e do Variações.
Ai! Que saudades do Eça e do Ortigão.
Ai! Que saudades da Saudade.

«A Nação publicou um telegramma de Lourdes, em que se lhe diz: O padre cego já vê, a paralytica já anda.» in As Farpas: Chronica Mensal da Politica, das Letras e dos Costumes

12.11.04

CÁ ESTÃO, DE NOVO, OS PRAXENETAS

A praxe não é assunto que me agrade, nem de perto nem de longe, e por isso não vou andar com rodeios. Não gosto, nem tão pouco a admitiria a algum bafiento em traje de lamento, por mais inteligente ou parvalhão que fosse, sem que antes lhe indicasse os possíveis caminhos para o médico de familia, entre outros. Fui alvo de tentativas, porventura inspiradas nessa alarvice tão cara aos muitos lorpas que o país teima em aceitar e acarinhar anos a fio (sem nunca chegarem a pavio) nas suas universidades públicas, quando andava no Liceu, quando trabalhei nas obras, e quando fui à tropa. Bastou-me, quase sempre, desferir uma olhadela letal para afastar os fedorentos, e mesmo com físico de lingrinhas não houve bardamerdas que ousasse dar o primeiro passo. Mas não sou ingénuo para acreditar que tudo se resolve assim. Tão pouco que seja assunto ligeiro, patrocinado, cada vez mais, pelo álcool à pressão. E muitos jovens não têm, hoje em dia, a mesma bruteza que tinha-mos à vinte anos atrás, sendo, por isso, presas fáceis ao bando de impotentes, frustrados, inacabados (mental e fisicamente) que por aí se pavoneiam confundindo o braço direito com o pénis erecto. Este é um assunto que já não têm assunto, e a única saída é, sem pejo nem pestanejo, acabar com ele. Aceitá-lo como acto de integração académica, por muito decorado e floreado que ele seja, é um erro. Os já acima referenciados, usa-lo-ão, sempre, como vávula de escape: poluindo e intoxicando e, quem sabe, matando impunemente sob o disfarce de uma bebedeira, ou de uma qualquer outra brincadeira. E mais, o ensino em geral, e neste caso em particular o universitário, não é nada de que possamos estar orgulhosos; nunca o país teve tantos doutores... mas continua a marcar passo à espera, quem sabe, de um traje mais apropriado. E ainda mais, até 1910 a monarquia também era a tradição; ainda há quem a anseie de volta. Por último; Barrancos e as Propinas são aquela excepção!!...

FUI VER OS AVIÕES ATERRAR

O produto Terror parece ser o mais consumido pelos nostálgicos da comunicação social actual.
Enterrado que está o passado, o presente reveste-se de capital importância para o jornalismo... do futuro. E as notícias fresquinhas, sobre tão ilustre produto, chegam de todo o lado (como os alimentos que enfeitam os nossos indispensáveis supermercados) bem embaladas e prontas a digerir sem grande, ou mesmo algum, esforço ou sabor. Este produto, um dos que mais saida têm tido, sem dúvida, no mundo civilizado, é produzido, pelo senhor que partilha do mesmo nome, na propriedade Aterro Sanitário, e embalada em vácuo. Os aviões aterram, diáriamente, vindos de quase todo o mundo desenvolvido, carregadinhos deste tão refinado ingrediente; indispensável aos braços de ferro que sustentam as traves mestras deste globo. Mas como diz cá o meu povo: «Comer só batatas não é bom; nem para a saúde, nem para crescer!»

Aqui estão 3 links para uma vista de olhos no excelente programa da BBC (como sempre, uma referência maior nestes tempos da informação empacotada e de dúbia qualidade) “The Power of Nightmares”, dividido em 3 partes: “Baby It’s Cold Outside”; “The Phantom Victory"; “The Shadow In The Cave”, e a partir destes podem aceder a informação relacionada.
Num trabalho de verdadeiro e isento jornalismo, apresentam-se factos, descontroem-se mitos, e, acima de tudo, revela-se um pouco do muito que se passa nos bastidores. O terror não mora só aqui, e alguns dos líderes do nosso querido ocidente que com ele lidam mais directamente, não só não compreendem a verdadeira dimensão do fogo, tão pouco as suas causas, como não se cansam de lançar mais gasolina –mesmo com os preços do petróleo no seu auge. E que a ETA já o usa há várias décadas. E que a Irlanda do Norte já lhe conhece bem o sabor. E a Itália das Brigadas Vermelhas e da Mafia. A América do Ku Klux Klan. Angola, Moçambique, Timor, Israel, Palestina e Etiópia. África do Sul, Sudão, China e Rússia. Portugal; antes e depois da ditadura. Infinitamente por esse mundo fora... Só mesmo quem nunca sentiu a pobreza e a miséria; só mesmo quem têm como objetivo único o lucro a todo o custo; só mesmo quem pensa que a sua vida é o centro do mundo; só mesmo quem não sabe ver é que pode dar-se ao luxo de falar assim tão levianamente deste pão-nosso-de-cada-dia de tanto ser vivo -que mais não é do que um mero objecto de que se dispõe ao sabor da toada. Porque não são só carros armadilhados, ataques suicídas, terrorismo profissional -patrocinado por ditaduras ou por democracias, guerras limpas e guerras sujas. É tudo isto e muito mais.
Parece-me, também, que a nossa Europa está a acordar, não do pesadelo mas directamente para o meio dele. Esperemos que tomem a medicação adequada, e prescrita fora dos lobies da indústria que assola a política como um cancro maligno, e os militares com assomos de quixotismo. É verdade, os tubarões vegetarianos andam por aí...

9.11.04

Que tipo de ser vivo pode desperdiçar tanto por um lucro... imaginário?

A procura da felicidade continua, mas noutra dimensão.
E as eternas questões: « quem somos? »; « de onde viemos? »; « qual o sentido da vida? » mantém-se... desperdiçadas. Ouvi muitas (demasiadas) sugestões –algumas ditas de científicas (justíssimo) outras divinas (aceitável). Mas digo-vos eu! Nós somos filhos do vento: soprou-nos de um longíquo, envelhecido e a morrer, planeta através das planícies do tempo, até que nos espalhou –ainda com uns restinhos- neste. Depois... bom começamos tudo de novo, não foi?